Escadas, Ponte Vecchio e sorrisos

                                                                                                           1 de Outubro de 2012,


Local: no meu quarto do apartamento nº 44, na Via Maggio, Firenze.
Hora: 23h03 (hora italiana)


Sinto-me bem. Sono stanca. Sempre gostei de dizer isto em italiano, soa bem melhor nesta língua do que na nossa.

As escadas parecem-me ser um obstáculo recorrente nesta cidade. Vivo num quarto andar, sem elevador. O instituto encontra-se no último andar do edifício, mas ao menos aí há elevador. Se bem que é um elevador à italiana, pequeno com uma porta principal e duas portas mais pequenas repentinas e barulhentas.

Fiz um teste de gramática italiana, hoje. Vi a Ponte Vecchio pela primeira vez, hoje. É mesmo um lugar especial. Nem queria acreditar que lá estava. Já tinha visto fotos e lido sobre o local e a realidade, ainda assim, nunca deixa de nos surpreender.

Fui às compras em Firenze, pela primeira vez. Gastei 27 euros, aproximadamente. Comprei quase tudo o queria. Carregar as compras pelas ruas cheias de turistas foi mais complicado. Felizmente as minhas novas colegas de casa ajudaram-me e juntas vencemos as "infinitas" escadas do nosso apartamento. Giro como as escadas podem ser infinitas de maneiras completamente diferentes...

Neste apartamento sinto que vivo, realmente, neste planeta. Somos cinco ao todo, de diferentes continentes, países, línguas e culturas. Mas, rapidamente encontramos coincidências e temas comuns. Todas sorrimos, todas embarcámos numa aventura. Esta é a minha realidade agora.

Partida

                                               30 de Setembro de 2012,

Local: Aeroporto de Barcelona

Hora: 00h47


A aventura começou. Só quando cheguei, finalmente, ao aeroporto de Barcelona é que percebi que é mesmo uma.
Senti-me um pouco sem abrigo. Depois, senti que não tinha pátria. É exagerado, estúpido e infantil, mas quando é hora de dormir e não se tem uma cama com o nosso nome, penso que é um pouco legítimo. Não deixa de ser estúpido e infantil. Sou uma espalha-brasas sortuda. Nos tempos que correm quem pode passar um mês fora a aprender uma nova língua? Não sou sem abrigo e tenho pátria e uma família que zela por mim, mesmo que agora o faça ao longe.

Quando temos sono, queremos calor, conforto e escuridão. Hoje tenho de fazer verdadeiramente o meu ninho.

Não sou a única a dormir no aeroporto. Saber isso faz-me companhia. Acho que vou imaginar o que lhes leva a dormir aqui esta noite, talvez sejam histórias para dormir.

                                  ...

Local: Café di Fiori, Aeroporto de Barcelona
Hora: 07h33

Dormi umas três horas no máximo. Com interrupções, é claro. Às 5h da manhã as luzes do aeroporto torna-se fortes e claras outra vez. Insisti no sono que não dormi realmente. Acordei de vez quando as amigas costas protestaram de vez.

Fiz uma cama de assentos de aeroporto, usei a manta vermelha que trouxe comigo e, escondi-me na sua escuridão vermelha. Os companheiros da porta de embarque, - todos a dormir, tal como eu - não incomodam. Fazemos todos um acordo silencioso e telepático de tomarmos conta uns dos outros e de estar alerta a barulhos estranhos.

O café onde estou tem um nome italiano. Estranho, pois ainda me encontro em território espanhol. Faz-me pensar que a cultura e a cozinha italiana insiste em existir em todo o lado, mesmo que nada tenha a ver com a original.

A minha cabeça foge muito frequentemente para futuras conversas com o senhorio da casa onde vou viver no próximo mês. Conversas com futuros e imaginários colegas de casa e do instituto, que não têm cara nem nação definida. Penso em demasia.

Rezo pela mala. Espero vê-la em Florença. Sonho com a cama que me espera na Via Maggio. Anseio o nascer do Sol. Espero continuar feliz lá.